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Local: São Paulo, Sudeste, Brazil

Sou dona risada! adoro bike e apesar de mil caidas, ainda não desisti! Quero ficar bem velhinha, andando de bike, nem que seja de cestinha na frente. Adoro ficção e apesar disso tudo,sou formada em jornalismo. Tenho uma confecção de roupas para ciclistas e adoro fazer isso também.

24 março 2010

GENTE QUE PEDALA: PIRANGUÇU: A MALDIÇÃO DO VELHINHO DA VAN



Max Domingues, é um amigo querido, que assim como a gente, vive, come, dorme, pensa ... bike. Prá ele, pedalar é o que importa, e portanto, tanto faz MTB como SPEED.

Ele se diverte e o melhor, sabe passar estas impressões tão maravilhosamente bem, que tenho que compartilhar isso com vcs..

Max, de vc...só posso dizer....camarada, mano véio,...tu é tudo de bom!!!
rs
beijos

É LONGO, MAS É DIVERTIDO! LEIA ATÉ O FINAL!

Domingo passado (21/03/2010) pode ser considerado como o dia (até então) mais sinistro da minha curta carreira ciclística e agora conto a história...

Saindo de Campos do Jordão com destino a Piranguçu (estado de MG, por asfalto mais ou menos 100km de campos de jordão, por estrada de terra, 41 km) pegamos um domingo meio nublado mas ótimo para pedalar.

Saimos da cidade de Campos do Jordão mais ou menos 9 horas e fomos rumo a Piranguçu por uma estradinha de terra bem interessante, sem muitos carros (o que viria a ser um problema na volta) e , como em toda a região da serra, com muitas subidas e descidas, praticamente nenhum plano.
Devagarzinho fomos enfrentando todos os morros, são praticamente 2 pequenas "serras" de 4km que se tornam a maior dificuldade até chegar no ponto final de subida (a represa de piranguçu que está representada nas fotos a seguir). Depois de mais ou menos 3 horas pedalando, chegamos até a represa e até então eu não tinha tirado nenhuma foto, resolvi tirar porque estava interessante a água sendo vertida para a cachoeira que tem ao lado da represa (que também está representada em uma das fotos). Muito bacana o lugar, bonito mesmo! Vendo no google earth, percebe-se que existem várias coisas interessantes ali por perto, igrejinhas antigas, pedalinhos, bosque com árvores centenárias, coisas que eu não pude ver, infelizmente, pelo motivo que virá a seguir.Domingo passado (21/03/2010) pode ser considerado como o dia (até então) mais sinistro da minha curta carreira ciclística e agora conto a história...

Saindo de Campos do Jordão com destino a Piranguçu (estado de MG, por asfalto mais ou menos 100km de campos de jordão, por estrada de terra, 41 km) pegamos um domingo meio nublado mas ótimo para pedalar.
Saimos da cidade de Campos do Jordão mais ou menos 9 horas e fomos rumo a Piranguçu por uma estradinha de terra bem interessante, sem muitos carros (o que viria a ser um problema na volta) e , como em toda a região da serra, com muitas subidas e descidas, praticamente nenhum plano.
Devagarzinho fomos enfrentando todos os morros, são praticamente 2 pequenas "serras" de 4km que se tornam a maior dificuldade até chegar no ponto final de subida (a represa de piranguçu que está representada nas fotos a seguir). Depois de mais ou menos 3 horas pedalando, chegamos até a represa e até então eu não tinha tirado nenhuma foto, resolvi tirar porque estava interessante a água sendo vertida para a cachoeira que tem ao lado da represa (que também está representada em uma das fotos). Muito bacana o lugar, bonito mesmo! Vendo no google earth, percebe-se que existem várias coisas interessantes ali por perto, igrejinhas antigas, pedalinhos, bosque com árvores centenárias, coisas que eu não pude ver, infelizmente, pelo motivo que virá a seguir.

Como a partir da represa eram 13 km de downhill até chegar a Piranguçu, fomos convidados pelo guia do dia, Sr. Paulo, a irmos até a cidadezinha, conhecê-la e almoçar por lá retornando após uma leve digestão.

A estrada de volta subiria estes mesmos 13 km mas chegando na represa, viraria para outro lado e o complemento até campos do jordão, seria por uma outra estrada, diferente da que tomamos na ida.
Pois bem, descemos até Piranguçu. Já neste momento percebi que não era meu dia de sorte pois minha suspensão estava totalmente sem ar e eu, inocentemente, achei que era um problema qualquer e não me atentei em verificar com mais propriedade. Resultado, a cada pequeno buraco, a suspensão batia como se fosse em fim de curso e as mãos e até o dedo do pé doía de tanto solavanco. Num determinado momento resolvi parar e em vi que realmente estava totalmente vazia. Por sorte, eu havia levado minha bomba que enche suspensão e coloquei 120 libras e as coisas voltaram ao normal. Neste momento, vendo a cidade lá embaixo, pensei em tirar uma foto mas mudei de idéia e achei na volta, na subida por ser mais devagar, eu iria poder fotografar tudo com mais propriedade...Ledo engano...

Chegando em Piranguçu, fomos almoçar num restaurantezinho com comida típica mineira, 12 reais pra comer o quanto aguentar, frango ao molho, carne de porco, macarrão, arroz, feijão e muita coca-cola em garrafa de vidro (1,5 litros) , coisa que é mais difícil encontrar e é bem mais gostosa de beber, pelo menos eu acho! :D

Durante o almoço uma chuva teimosa resolveu cair como mostra a foto e aí começa a "maldição do velhinho da Van".

Fortemente defendida pelo Oswaldo (Gary Fisher) a tese de que não deveríamos voltar pedalando e sim procurarmos uma van para voltarmos (pois ele queria tomar cerveja e tava com preguiça de voltar na chuva), o mesmo resolveu ir procurar alguém que pudesse nos levar de volta. Ficou sabendo que ao lado do restaurante tinha um senhor que era motorista de van e poderia nos levar. Pouco tempo depois voltou com um velhinho com uma bacia em cima da cabeça que era usada como guarda-chuva olhando nossas bicicletas e dizendo que cabia todo mundo, 2 iriam meio apertados mas que era tranquilo.
Como somente o Oswaldo queria ir de van e o resto não, o senhorzinho já percebendo que poderia perder o frete começou a fazer pressão psicológica do tipo: "mais tarde eu tenho compromisso viu?". Ele queria cobrar 200 reais e eu achei um preço razoável na verdade...Quando ele viu que não iríamos mesmo de van ele disse: "Não vou mesmo ganhar os meus 200 reais???"
Brincamos que iríamos pedalando e saímos mesmo na chuva.
Muito provavelmente nesta hora ele deve ter pensado: "algum destes bobões vai empurrar a bicicleta até campos do jordão para eles que deveriam ter contratado meus serviços!!" Abracadabra!

Já quase 15 horas (ou mais), saímos com chuva e tudo (que parou pouco depois e até abriu um solzinho tímido), nos primeiros quilômetros já o primeiro sinal da maldição: um pneu furado. Consertamos rapidamente e voltamos a pedalar lembrando que os 13 km do downhill da vinda seriam 13 km de uphill na volta e mais a parte final do trajeto que NINGUEM ainda tinha feito e ninguem sabia o nível de dificuldade.

Pedala aqui, pedala ali, e o chamado "chainsuck" começa a incomodar. Chainsuck é quando entra barro, grãos de areia na corrente e rolagem "trava" e isso pode levar a tombos e quebras de câmbio...
Ouvindo os primeiros barulhinhos de chainsuck e sentindo que meu equipamento estava todo danificado por barro (oriundo da vinda em uma parte onde a máquina da prefeitura passou e deixou a terra fofa que se acumulou em todos os pontos da bicicleta), diminuí a marcha para coroa do meio e catraca maior (34T) e vim pedalando bem devagarzinho, deixando o "pelotão de 6" subir mais animadamente a frente quando de repente, num entrave de chainsuck meu cambio traseiro se parte, quebra, e a partir daí começa o martírio...

Primeira atitude: pegar a chave de corrente, tirar o cambio quebrado, colocar numa marcha somente e ir pedalando assim mesmo. Depois de várias tentativas do Johnatan e Oswaldo (que inclusive tirou 2 coroas pois segundo ele elas estavam fazendo com que a corrente mudasse de lugar), vimos que não ia adiantar nenhuma configuração de corrente. Conclusão: empurrar morro acima (lembrando que eram 13 km!!!!!) enquanto os colegas da frente iam até Campos e voltariam para nos resgatar. Isso era mais ou menos 15:30.

Falei pro Bóia e pro Johnatan que podiam ir na frente, que eu ia empurrando e que "rapidinho" eles chegariam la no carro e viriam me socorrer. Felizmente eles negaram e ficaram me fazendo companhia o que se tornou a minha sorte pois como ninguém conhecia a dificuldade do caminho da volta, o que achávamos que seria uma "baba" da represa até campos do jordão, nada mais era do que a PIOR parte do trajeto. Apesar da estrada de terra ser com subidas pouco ingrimes , ela dava "apenas" na estrada que liga São Bento do Sapucaí até Campos do Jordão!! Para quem já foi por ali, sabe do que eu to falando...Morros de asfalto INTERMINÁVEIS, e uns 500 metros ou mais de desnível! Distancia em asfalto de morro a ser percorrida até campos: mais ou menos 10 km de morro!

Meu objetivo era chegar na represa pois eu achava que até eu chegar lá empurrando os 13 km, os que foram na frente já teriam pego o carro e nos alcançariam naquele ponto...Mais um engano...

Com muita dor nos tendões de aquiles e muita paciência, fui empurrando morro acima com a companhia dos 2 amigos que praticamente perderam seu passeio pois tiveram que ir na mesma velocidade que eu, ou seja, 3km/h de média com várias paradas para diminuir a dor nas costas e nas pernas...

16 horas...17 horas...17:30...Os 13 km da subida parece que não iriam acabar nunca e a represa nunca ia chegar...

A estrada que outrora tinha alguns carros passando, neste dia resolveu ficar totalmente vazia! De vez em quando passava algum pequeno carro ou moto, mas nada de uma pickup, caminhonete , caminhão, nada...A cada barulho de motor vinha a idéia de uma caminhonete totalmente vazia atrás, prontinha para jogarmos as bikes e irmos de carona até Campos...Nada..O desespero e a "ilusão" auditiva chegaram ao cúmulo de eu ter certeza que o barulho do motor era de uma F-4000 quando na verdade era de um fusquinha bege 1976...

Uma chuva resolve cair também...

Empurra, olha pro chão, pensa na vida, pensa no velhinho rindo lá embaixo, empurra, sente a chuva cair nas costas e imagina se um dia conseguirá sair daquela situação...

18 horas, quase escuro...finalmente a represa chega! Meu objetivo havia sido atingido

Como não tinha ninguém lá mesmo, pra não perder tempo, viramos no caminho que seria o normal e continuei empurrando.
Nesta hora, como haviam varias pequenas descidas e vários semi-planos, abaixei o selim para poder fazer tipo um "esqui-ciclistico" e ficava sentado batendo o pé pra pegar embalo e ainda fui empurrado pelos colegas que arriscavam levar um tombo naquelas estradas cheias de buracos com água de chuva e nem dava pra ver direito se eram fundos ou não.

Entre "esquiadas" e empurradas a noite caiu. A estrada que já não é movimentada, não tem muitos sítios a beira da estrada e está dentro de uma área de preservação densamente povoada de árvores altas virou uma selva. Em alguns momentos as árvores tampavam a lua que foi uma benção é ajudou a enxergar boa parte do trajeto. Estas árvores da serra da mantiqueira soltam um tipo de "cachecol marrom" que às vezes vc olhava pro chão e pensava que podia ser uma cobra enrolada (depois que me deparei com uma cascavel ali no urbanova, isso era mais do que possível). O negócio era rezar e ir andando o mais rápido e torcer para um farol vindo em sua direção ser dos seus amigos.

Nada de farol ....

Os que vinham, eram de motos que nem paravam pra nos perguntar se precisávamos de algo pois provavelmente estavam com medo de 3 malucos, de noite, chuva, no meio do mato, empurrando bicicletas...

Em vários momentos vinha a pergunta: "será que estamos indo no rumo certo? Será que aqui dá na tal estrada de asfalto?"

Nada de farol...

Se estivéssemos no rumo errado, quem viria nos resgatar nunca nos encontraria!

Nada de farol...Nada de nada...Só selva, escuridão e uma baita dor nas pernas e nas costas que neste ponto já era oriunda de empurrar 13 km morro acima e mais uns 5, 6 no semi-plano...

De vez em quando um vulto passa do lado e quando você vê é um cachorro! Leva um susto.

Outra hora os vultos resolvem latir (pelo menos avisam).

E nada de farol...Nada de resgate.

Pra não dizer que não apareciam farois, de meia em meia hora passava um carro que vc tinha certeza que era a caminhonete do resgate mas era todo tipo de carro, menos o resgate até que uma hora praticamente pulei na frente de um que passava pra perguntar se estávamos no rumo certo.
Resposta do condutor: "sim, vcs estão no rumo certo...o asfalto está daqui uns 2 km." (depois, andando vimos que estava mais ou menos 6 km!!)

Empurra...Empurra...
Pensa que não vai sair daquela, mas pelo menos não está sozinho.
20:30 da noite...
"Será que eu vou conseguir ir trabalhar amanhã?"
"Será que eu vou conseguir voltar pra casa?"

Praticamente quase chegando no asfalto, um farol que vem é finalmente o salvador! Nosso amigo Silvio finalmente chegou.
Como quem foi na frente nao sabia a pancada que enfrentariam, eles também pegaram a estrada de São Bento a Campos , de noite, sem farol (uma das boas lições do dia) e sofreram muito para chegar lá.
Eu , empurrando, estava menos de 2 horas de diferença deles.
Sem acreditar muito que a salvação havia chegado, colocamos as bikes na caminhonete e fomos para campos que nesta noite devia estar com 11 graus de temperatura, mais ou menos (de manhã , na vinda, estava com 15 graus).

Consegui ir pro carro e fomos até uma lanchonete. Comi 2 lanches tremendo de frio igual bambu e finalmente iniciamos o retorno pra casa.
Várias coisas aconteceram neste tempo todo mas se eu for escrever tudo, vira um livro.

Lições aprendidas:
1 - Passeio com mais de 50 km na serra da mantiqueira: LEVE FAROL! Uma quebra de câmbio ou algo que faça alguem empurrar pode acabar com seu dia e vc ainda vai ficar na "selva" e no escuro.
2 - Nunca mexa com velhinhos motoristas de van. Se chegar a conversar com ele, CONTRATE SEUS SERVIÇOS.
3 - É uma boa carregar uma gancheira igual a que vc usa e , quem sabe, um cambio destes mais "simples". É algo a se pensar em passeios maiores em lugares desconhecidos e sem muita condição de resgate.
4 - Sua bike está cheia de barro? Começou a dar sinais de chainsuck? Dê um jeito de jogar água na corrente. Por mais que digam que MTB é feito para andar no barro e tralalá, o equipamento NÃO É PREPARADO PARA ISTO!!! Barro , areia , correntes e câmbios não são amigos!!! Óbvio que nas devidas proporções. Quando o barro começa a invadir a sapata dos freios, acumular ali no pedivela e etc, é pq o bixo ta pegando e o perigo de quebra de câmbio é iminente!

O resto, consequência...
Coisas que acontecem mesmo. Quem anda de bike está sujeito a isso. Acho que não tem muito o que fazer nestas horas como prevenção.

O que mais vale no final das contas é a amizade e companheirismo dos colegas que não deixam você sofrendo sozinho.

Gostaria de agradecer publicamente ao Johnatan e ao Bóia que estiveram ao meu lado o tempo inteiro, em alguns momentos até empurraram também pois , pedalar a 3 km/h não dá!
Se não fosse por eles, quando escureceu, eu com certeza não iria ter coragem de continuar sozinho.
Iria ter que parar em algum ponto e esperar sentado (o que ia ser terrivelmente pavoroso!)

Abraços a todos!

Max

obs 1: no arquivo anexo do google earth da pra ver a tal represa. Copiem e colem as coordenadas no google earth e vejam o que são os pontinhos azuis. Muitas coisas interessantes por ali!
obs 2: apesar de todo o perrengue , o passeio é excepcional! vistas lindas! Com certeza eu irei repetir!




2 Comentários:

Blogger Roger Plisk disse...

ola amigo!!!

animal o post... estava procurando por um arquivo de waypoint, pois
qdo tinha uns 20 anos fiz este caminho, porém saindo de Itajubá e indo até a Pedra do Baú... com mais dois amigos aventureiros.

Porém hj já estou com 31 anos e a pegada é outra, quero ir equipado e com GPS inclusive heheh para não passar perrengue!

abraço!!!
Rogerio Plisk

rogerplisk@gmail.com

15/7/10 01:25  
Anonymous Anônimo disse...

Ohw, o velhinho é gente boa, tadinho dele, ushaauhsuahushaush, ri mt aq, ameii \o/ Deve ter sido muito tenso não :/

15/3/11 00:33  

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